sexta-feira, 2 de dezembro de 2005

As faltas de Alegre

Manuel Alegre tomou a decisão política de não participar na votação do Orçamento de Estado para 2006. O espaço que procura reservar para a sua candidatura presidencial não lhe deixa grandes alternativas e, ao agir assim, expôs a contradição a que esta está presa desde o seu lançamento.
Ele é e continuará a ser um destacado dirigente do PS, embora a sua candidatura, sendo lançada contra a do seu partido, se tenha transformado num colectivo em que avultam ressentimentos, bem compreensíveis alguns deles, como o de Carlos Brito, com os partidos.
O candidato presidencial continuará fatalmente pressionado pela dificuldade de gerir o seu estatuto de deputado eleito pelo PS até ao fim da sua campanha, tome as decisões que tomar. Mas o PS tem, também, o dever de saber gerir a sua relação com este militante.
Em matéria presidencial, nem os passos do PS foram acompanhados por Alegre, nem os de Alegre são acompanhados pelo PS. Espera-se que o partido, para além da clareza do apoio a Soares, seja igualmente inequívoco, na comunicação com os seus eleitores, em relação à candidatura de Alegre.
Mas a lição de maturidade democrática que o PS ainda pode dar depende do rigor dos procedimentos que adoptar.
Em 1986, presidia Cavaco Silva ao PSD, entendeu tratar o apoio de militantes seus a Soares no plano disciplinar. Agora, a direcção de José Sócrates decidiu, bem, que a diferença entre o PS e a candidatura de Alegre é política.
É precisamente por também ter esse entendimento que discordo profundamente de quem confunde a decisão política de Alegre com uma falta aos deveres de assiduidade do parlamentar, misturando os gestos políticos com as situações de quem não vai votar porque não lhe apetece saír de casa naquele dia ou tem mais que fazer do que ir ao Parlamento.