quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

Masoquismo [corrigido]

1. Num exercício masoquista, o INE publicou, em parceria com o seu equivalente espanhol, uma pequena brochura intitulada A Península Ibérica em Números, onde reúne um conjunto de quadros e gráficos em que se comparam, sistematicamente, os principais indicadores estatísticos sobre economia e sociedade em Portugal e em Espanha. O resultado global dessa comparação é arrasador: de um lado em país atrasado e a atrasar-se — Portugal —, de outro um país em recuperação acelerada do seu atraso, prestes a entrar no núcleo mais rico da UE — a Espanha.
Solução? Não sei, mas sei que não será fechando-nos, defensivamente, em relação ao vizinho maior, mais dinâmico e mais poderoso. Só participando no desenvolvimento espanhol poderemos acelerar o nosso próprio desenvolvimento.

2. Quase no fim da brochura, uma pequena vitória (entre outras de que se falará noutro texto). Num indicador vamos à frente não só de Espanha como da quase totalidade dos países da UE 25: temos mais carros por mil habitantes!


Número de automóveis por 1000 habitantes nos países da UE 25, 2002
Fonte: A Península Ibérica em Números, p. 35.


Ou será mais um indicador de derrota? Um exemplo entre outros do desperdício de recursos com investimentos mal pensados?
Quando tanto se discute o TGV, seria bom ter em conta este indicador. Mais do que discutir se devemos ou não continuar a investir em infra-estruturas seria bom que discutíssemos, sobretudo, em que tipo de infra-estruturas devemos investir. Certamente que não na construção de infra-estruturas de suporte ao automóvel individual, com todas as suas pesadas externalidades, em detrimento das infra-estruturas de suporte aos transportes colectivos. Mas certamente que sim no que respeita à revitalização e modernização do nosso sistema ferroviário.