Um comentário e uma nota de perplexidade
Zé Carneiro (em comentário ao texto anterior “Masoquismo”: “Jornal Público de hoje [29/12/2005], p. 26, ‘Metropolitano de Lisboa com passivo de 3100 milhões’. Acrescento eu: um facto irrelevante no momento em que se consideram os novos mega projectos ferroviários e da OTA.”
O comentário deixa-me perplexo. A primeira afirmação que sobre o metro de Lisboa sou capaz de fazer é que era necessário mais metro. A segunda, é que esta falta tem saído cara, muito cara mesmo, com toda a despesa pública feita para suportar o automóvel privado (as ruas e túneis das nossas cidades…, entre outros recursos) e com os prejuízos decorrentes de um trânsito urbano cada vez mais caótico. A terceira, é que faz sentido o financiamento público de um recurso que redistribui acessibilidades, racionaliza o uso do espaço urbano e, globalmente, é mais barato do que a solução actual baseada no automóvel particular (quando se consideram os custos indirectos desta, suportados indiscriminadamente por todos os contribuintes). A quarta é que deve ser revisto com urgência quer o modo de gestão das empresas públicas, quer os modelos de financiamento destas (agora o que não vale é atribuir-lhes uma missão que dá prejuízo e depois questionar a sua existência porque dão prejuízo).
O que não retiro de todo da notícia é a conclusão de que as infra-estruturas públicas devem ser construídas apenas se não forem deficitárias, nomeadamente quando se consideram apenas os custos e as receitas da sua exploração directa.
Mas se calhar é por isso que continuo a pensar, ao contrário do Zé Carneiro, que a dicotomia esquerda/direita vai bem para além dos domínios “puramente políticos”…