O atraso do TGV
O ministro Mário Lino tem razão: se o processo do TGV peca por algum grande defeito esse é o do atraso de decisão e de concretização. A alta velocidade ferroviária já devia estar a funcionar, ou prestes a funcionar, ligando Lisboa-Madrid e Porto-Lisboa.
Os pessimistas criticam o projecto argumentando que este não é rentável por não se pagar a si próprio. Esquecem que também não se pagam a si próprias as estradas comuns e as ruas das nossas cidades. Mas esquecem sobretudo que o TGV não é uma forma de os mesmos viajantes fazerem as mesmas viagens mais depressa (e portanto um luxo). Quando o tempo de viagem se reduz tão radicalmente como acontece no TGV, surgem novos viajantes e novas viagens que passam a fazer sentido com o “encurtamento” do espaço que a velocidade da deslocação permite. Por isso a tendência para se substimar sempre o volume do tráfego nos projectos de alta velocidade.
Com UMA hora de viagem entre Lisboa e Porto, tanto quanto a duração de muitas deslocações casa-trabalho no interior das actuais áreas metropolitanas daquelas duas cidades, é como se estas passassem a ser dois pólos de uma mesma área metropolitana, mas agora com uma dimensão ampliada e os respectivos ganhos de escala. E com menos de TRÊS horas entre Lisboa e Madrid, tanto quanto dura actualmente a viagem Lisboa-Porto, é a integração no espaço ibérico que se reforça, ampliando como nunca no passado os territórios possíveis da nossa acção quotidiana.
A aviação comercial a jacto torna, todos os dias, o mundo mais pequeno nas longas distâncias. Paradoxalmente, o mundo permanece enorme nas curtas e médias distâncias. A alta velocidade ferroviária permitirá reequilibrar as condições da nossa integração local e global.