domingo, 15 de janeiro de 2006

Ainda a tempo: o cenário do nosso descontentamento

Admitindo que as eleições podem ser influenciadas por eleitores descontentes que se esquecem que, para o voto, ainda não está inventada a “pílula do dia seguinte”, não resisto a postar duas citações.

1. A primeira é de Nuno Brederode Santos, em boa hora regressado aos jornais, no DN de hoje:
Se Cavaco ganhar, estaremos antes perante um embaraço e um contratempo.
O embaraço começa na manhã de 23 de Janeiro, à hora de abertura das chancelarias. Chirac, com as duas mãos na baguette, Blair, mordiscando a sandes de pepino, Merkel, trucidando entre as fauces um enchido obsceno, exibirão todos o mesmo sorriso alvar de quem acha que já só tem de se preocupar com 24, porque aqui foi eleito o “bom aluno”. Mas o amigo francês, inglês ou alemão que alguns de nós persistem em cultivar dir-nos-á, com um pesar educado “Deixa lá, pá. É pior o Berlusconi…”
O contratempo começará mais tarde. Só depois do tempo necessário a que o mais impopular das reformas que a direita não fez seja consumado pelo Governo socialista; a que os nogueiristas da actual direcção do PSD passem da sua acrobática guerrilha às batalhas, em campo aberto, com António Borges ou outro liberal cavaquista; a que o CDS aceite de vez a sua humildade estratégica de filhote marsupial do PSD; e, já agora, por pudor, a que passe, sem episódios institucionais espectaculares, a presidência portuguesa da União.


2.A segunda é da entrevistas de Mário Soares que o El País hoje publica:

R. [...] Pero es que ahora estamos asistiendo a la berlusconización de la prensa portuguesa: el poder económico se apodera de la prensa para intentar apoderarse del poder político. Hay seis candidatos, cinco de izquierdas que son maltratados y uno de derechas que es el único bien tratado. Y eso es lo más extraordinario porque él [Cavaco] nunca dice nada: tiene un guión y nunca se sale de él.
P. Tras una carrera tan dilatada y sus ambiciones cumplidas, mucha gente se pregunta qué necesidad tenía de presentarse.
R. Entendí que esa grave situación de concentración del poder económico sobre el poder político puede llegar a adulterar nuestra democracia. Pensé que no podía mirar hacia otro lado y que tenía que luchar esa batalla.