Raio de realidade #3
Segundo João Carlos Espada, citando o texto de uma sua convidada americana (Kay Hymowitz) na Nova Cidadania, existe uma relação entre as “tendências nos âmbitos da criminalidade, divórcio, gravidez adolescente, consumo de drogas, etc.” (Expresso, Actual, 14/01/2006, p. 46). Em períodos de decadência moral (por exemplo, nos anos 60) todas subiriam, em períodos de regeneração moral (por exemplo, nos anos Bush), todas desceriam. Nos países que ficassem de fora destes processos de regeneração, a decadência acentuar-se-ia e, com ela, o divórcio e a gravidez de adolescentes.
Pena o raio da realidade! Se compararmos a proporção de nascimentos de mães com menos de 20 anos no total dos nascimentos, no período 2000-2005, nos EUA (51 por cada mil nascimentos), Suécia (7) e Portugal (20), não se vislumbra grande relação com as taxas brutas de divórcio no mesmo período (3,9 nos EUA contra 2,4 na Suécia e 2,2 em Portugal). Em contrapartida, parece (reforço, parece) existir alguma relação entre o peso da gravidez adolescente e a desigualdade social, medida pelo índice de Gini da distribuição do rendimento (41 nos EUA, 39 em Portugal e 25 na Suécia). [Essa mesma relação é assinalada, para o caso português, num estudo empírico cujos resultados foram publicados, em 2004, na revista Análise Psicológica].
Já tínhamos, na má análise estatística, a autocorrelação e a correlação espúria, só nos faltava mesmo a correlação demagógica.