segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Discriminação democrática

A última crónica de João Carlos Espada no Expresso (7/1/06) introduz um argumento original sobre a discriminação: só há discriminação se a maioria entender que há!
Este originalíssimo argumento, apresentado a propósito da discussão sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, é construído da seguinte forma: (1) nem tudo o que está vedado a pessoas de um sexo é discriminação, pois há actividades ou posições para as quais o sexo é relevante (por exemplo, um modelo que apresenta roupa feminina deve ser mulher); (2) só há pois discriminação caso se considere que o sexo dos parceiros não é relevante para a definição legal de casamento; (3) ora, a maioria pode considerar que o sexo dos parceiros é relevante para aquela definição; (4) nesse caso, proibir o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é discriminação.
Portanto, nos estados sulistas dos EUA, antes dos anos 60, não havia discriminação racial, pois a maioria tinha decidido, democraticamente, que a cor da pele era relevante para quase tudo. Como, aposto, se concluiria a propósito dos ciganos se levássemos o assunto a votos em Portugal…