Os últimos suspiros das bolas de cristal
Por imposição da lei, com o fim da campanha eleitoral são publicadas as últimas sondagens eleitorais.
Tenho, há muito tempo, dúvidas sobre o interesse das sondagens repetidas obsessivamente para a condução de uma campanha eleitoral e a convicção de que se exagera imenso o seu poder de influenciar os resultado finais das eleições.
Estou convencido que se prevê mais nitidamente e com maior antecipação a direcção dos movimentos eleitorais profundos que definem as vagas de mudança com metodologias qualitativas que trabalham as motivações dos eleitores, o que os aproxima e os afasta de cada candidato, o que desejam, o que receiam e o que esperam. E que as sondagens são demasiado vulneráveis à sua dificuldade de captar a diferença entre um votante real e um abstencionista.
Por outro lado, tenho a sensação de que o efeito reflexo das sondagens é menor do que se julga, que o eleitorado português é pouco reactivo ao conhecimento antecipado de um resultado provável.
Não possuo, sobre estas eleições, nenhuma outra indicação do que a resultante das sondagens publicadas e sorrio quando me esgrimem com as leituras das bolas de cristal para me darem seja a certeza de não haver uma segunda volta, seja de quem a disputará, caso haja.
Tudo visto e ponderado, as bolas de cristal estão baças. As margens de erro passam tangentes aos 50% de Cavaco, em tendência de descida. As diferenças entre Soares e Alegre, para além dos efeitos das medições dos indecisos entre os dois, apenas permitem dizer com segurança que, se houver segunda volta, será com um deles.
Mas não vale a pena os candidatos discutirem com as sondagens e com a divulgação dos seus resultados. O que hoje ainda há de essencial para tratar é de agir, porque a maior parte dos eleitores que vão fazer no Domingo a diferença entre haver ou não uma segunda volta nestas eleições ainda não fecharam o seu processo de decisão.
Eu apoio Soares. O meu candidato tem dois argumentos simples - um pela negativa e outro pela positiva - que o podem levar à segunda volta. O problema é que nenhum deles só por si é suficiente e é necessário valorizar os dois para que produzam o efeito que desejo:
1. Cavaco seria um Presidente gerador de instabilidade e quem votou PS nas legislativas não deve fomentar a vingança do PSD (e do outro partido) derrotados nas urnas;
2. Ele, Mário Soares, é o candidato que melhor entende o papel do Presidente como moderador e àrbitro, não se arvora em fiscal dos valores e é o que mais pode apoiar e ajudar o Governo no desempenho da sua missão- este ou qualquer outro - como já demonstrou.
É necessário convencer disto os portugueses e não é fácil? É para isso que servem as campanhas eleitorais. Porque os resultados estão, como sempre em democracia, apenas nas mãos dos eleitores.
PS. Para que o país seja governável depois das Presidenciais - a uma ou a duas voltas - vai ser decisivo o que se passar no Domingo, mas não só no voto dos eleitores, também nos discursos depois do fecho das urnas.