quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

É a política, não a economia!

1. Uma das divisões estratégicas da esquerda centrou-se nas relações entre comunismo, capitalismo e democracia, com os que prezam as liberdades e se opõem à desigualdade social a recusar quer a via soviética, quer a via chinesa pelo carácter autoritário de qualquer destes regimes.
Como as experiências de reforma do pós-guerra mostravam que não era possível ter democracia sem capitalismo, uma e outra escolhas passaram a ser vistas como indissociáveis, e as formas de desenvolver a democracia e a equidade social passaram a ocupar um lugar central na agenda política da esquerda que não quer sacrificar as liberdades.

2. Mesmo depois do derrube do muro de Berlim e do falhanço de Gorbachov, o caso chinês constituia, porém, um contra-argumento com algum significado, já que, a partir dele, se podia sustentar - tanto à direita, como à esquerda - que a promoção de lógicas de desenvolvimento capitalista arrastaria, cedo ou tarde, a democracia.
É essa lógica que Robert Reich vem contestar, juntando a sua voz à dos que, há anos, sustentam o primado do político sobre o económico:

China shows that when it comes to economics, the dividing line among the world’s nations is no longer between communism and capitalism. […] The real dividing line is no longer economic. It’s political. And that divide is between democracy and authoritarianism. China is a capitalist economy with an authoritarian government. For years, we’ve assumed that capitalism and democracy fit hand in glove. We took it as an article of faith that you can’t have one without the other. But China shows that the reverse may not be true -- capitalism doesn’t need democracy. Capitalism’s wide diffusion of economic power offers enough incentive for investors to take risks with their money. But, as China shows, capitalism doesn’t necessarily provide enough protection for individuals to take risks with their opinions.

3. É caso para se perguntar a quem incomoda mais esta tese: se à direita que promete a equidade social como resultado automático do desenvolvimento capitalista, se à parte da esquerda que teima em não pôr as escolhas políticas à frente dos pseudo-determinismos económicos.