Obrigado, Jorge
José Sócrates assumiu as funções de coordenação da Comissão Permanente que Jorge Coelho desempenhava.
Nunca fui adepto do modelo de direcção partidária pressuposto na existência da Comissão Permanente. Mas penso que serviu, a partir de certa altura, para manter alguma autonomia da vida partidária, nomeadamente quando o PS está no Governo. E, sobretudo, serviu para que os socialistas tivessem um interlocutor quando a sobreocupação dodas funções governamentais o torna difícil. Sem dúvida que a personalidade de Jorge Coelho foi uma das chaves para que tal fosse possível.
Em rigor, com António Guterres, Ferro Rodrigues e José Sócrates como secretários-gerais, o partido foi muito mais moldado pela liderança efectiva no terreno de Jorge Coelho do que muitos, no exterior, imaginarão.
Por isso, a confirmar-se que o Jorge entendeu que chegou a hora de um novo ciclo para o PS, a questão deve ser levada a sério. Não se trata apenas da sucessão da pessoa na função, mas da transição entre maneiras de (vi)ver o PS.
Dizer “obrigado, Jorge” é o mínimo que se pode fazer a quem, como ninguém antes, excepto Mário Soares, moldou o PS dos últimos dez anos, goste-se ou não, muito ou pouco, do resultado.
Sobre o futuro, a notícia de que Sócrates assume a função de Coelho nada diz. Não será, seguramente, o Primeiro-Ministro a gerir quotidianamente o partido. Se não há formalmente ninguém designado para o fazer, o tempo dirá quem o faz de facto.