O Jerónimo é um querido, passe a expressão
1.Em dia de Benfica-Barcelona, vale a pena reler a entrevista que o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, concedeu à última edição da Pública. Jerónimo é um benfiquista de sempre: «Desde que me lembro de ser gente que nutro uma simpatia e um benfiquismo que não tem uma explicação lógica.» Se Cunhal via na revolução de 1383-85 a origem da luta de classes em Portugal, Jerónimo sugere que a história do «benfiquismo» se confunde com a história da luta antifascista: «a visão do carácter decisivo que o povo tem na história do seu país e que, pela via do futebol, tinha a sua expressão». Ao longo da entrevista, o secretário-geral do PCP disserta sobre as SADs, Koeman e o plantel encarnado. Não poupa elogios ao camarada Beto -«uma espécie de operário, um lutador. Tem uma coisa que eu valorizo sempre muito que é o querer». Mas é Mantorras quem melhor encarna a ideologia benfiquista: «O Mantorras é uma figura que entra no coração de qualquer benfiquista. O Benfica não pode ser apenas uma SAD. Tem que ter também esta dimensão onde cabe o Mantorras. Ele é um querido, passe a expressão». Quanto ao jogo de logo à noite, Jerónimo recomenda a receita de sempre: humildade, determinação, confiança. Até porque como ele costuma dizer, seja a propósito de Sócrates ou do Liverpool, «a melhor prova do pudim é prová-lo».
2.Depois de ter visto as imagens de Jerónimo a dançar nas presidenciais de 1996, pareceu-me logo que havia ali um lado de freak show que podia agradar a boa parte do eleitorado. O único problema seria a resistência da burocracia do PCP a estas coisas da sociedade do espectáculo. Mas, pensando bem, em cada momento, o PCP sempre se soube moldar à organização do próprio Estado português. Ora, se a administração pública entrou agora em fase desburocratização, por que razão não havia o aparelho do PC de fazer o mesmo?