Respeitinho
Um dos problemas com declarações como as que exigem o respeito pelo sagrado (“com o sagrado não se brinca”, dizem-nos), é que são contagiosas. Por exemplo, hoje, participando num debate público, fiquei a saber que devia ter respeito pelos dados do INE! Ou seja, que com dados não se brinca, sobretudo se vierem de instituição pelos vistos sagrada.
E eu que pensava que a validade e credibilidade das estatísticas resultava, como a do conhecimento técnico-científico em geral, do escrutínio público, do teste permanente, da discussão crítica, da desconfiança como princípio cautelar da sua sistemática avaliação, em resumo, de uma total falta de respeito pelas ditas. Pensava eu que, pelo menos aqui, estava em terreno firme de debate crítico e racional. Pelos vistos enganei-me. Ou então alguém acabou de inventar a “blasfémia estatística”.