Enclave confessional
Que Alberto João tinha transformado a Madeira num enclave orçamental, já o sabíamos. Agora é a vez do bispo do Funchal querer transformá-la num enclave confessional, ao apelar à manifestação contra o concerto da MTV marcado para sexta-feira na Ponta do Sol.
Note-se que o bispo tem toda a legitimidade para apelar aos católicos para não irem a esse concerto, tendo em conta a data da sua realização. Tem mesmo toda a legitimidade para criticar com veemência os católicos que não responderem positivamente a esse apelo. Mas não tem legitimidade para apelar à não realização de um concerto secular num determinado dia por esse dia integrar o calendário católico como “dia santo”. Condicionar as actividades possíveis num feriado de origem religiosa às exigências das crenças católicas só seria legítimo (embora indesejável) se a religião católica fosse religião oficial do Estado português. Saberá o bispo que vivemos num estado laico?
O bispo do Funchal associou-se ainda ao grupo do “é tudo igual”, quando, segundo o DN, comparou a realização daquele concerto a “um acto terrorista”. Sendo habitual que do terrorismo resultem mortes provocadas, perceberá o bispo que está com essa declaração a desvalorizar o acto do assassínio? E não tem um bispo especial responsabilidades no que ao valor da vida diz respeito para ser admissível tal desvalorização?
Este é um problema recorrente. Quando se exagera na comparação, mais do que carregar de negatividade aquilo que se caracteriza com exagero, desvaloriza-se sobretudo aquilo que é verdadeiramente negativo e serve de padrão de referência.