fascismo social
As «mães de Bragança» voltam a atacar. Depois da luta contra as prostitutas brasileiras, que lhes «enfeitiçam os homens», e o encerramento das maternidades, que as obriga a ir dar à luz a Espanha (que horror!), corre em Bragança um documento intitulado «Perigo Amarelo», que apela ao boicote às compras nas lojas chinesas da cidade. Fernanda Silva, líder deste novo movimento social, diz hoje no DN que a instalação do comércio chinês «está a ser muito prejudicial (…) com a agravante de que não são produtos de qualidade».
António Mega Ferreira escreveu uma vez que uma cidade só é verdadeiramente cosmopolita quando preenche três requisitos. Não me lembro dos outros dois, mas um dos requisitos era justamente ter lojas chinesas. Prefiro mil vezes o «capitalismo selvagem» das lojas chinesas ao fascismo social* dos comerciantes tradicionais («Então senhor doutor, como está a sua senhora?»; «e a sua mãezinha já está melhor? Não a tenho visto ultimamente…»; «Já experimentou estas bolachinhas que eu lhe vou vender pelo dobro do preço a que as comprei no Makro?»). As lojas chinesas têm imensas vantagens: estão abertas até tarde, são baratas, não fecham ao domingo nem vão para a terra em Agosto. Além disso, ninguém nos chateia (ou pelo menos não percebemos que nos estão a querer chatear). Se os produtos são «de qualidade» ou não são, cabe aos consumidores avaliar, e não à senhora dona Fernanda Silva.
* Um conceito muito bom de Boaventura Sousa Santos, que, se bem me lembro, remete para a cultura autoritária que persiste na «sociedade civil» portuguesa.