Sindicalismo “reaça”
1. Já tinha acontecido com declarações de dirigentes do sindicato dos funcionários do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras. Repete-se agora com declarações de dirigentes do Sindicato dos Profissionais de Polícia (SPP): por ideologia e por ignorância, estas são claramente xenófobas, ao ligarem um eventual aumento da criminalidade à imigração: “o aumento da criminalidade em Portugal deu-se com a abertura das fronteiras”.
A ideologia é visível no truque argumentativo que consiste em justificar aquela afirmação com exemplos em que os autores de um determinado crime são estrangeiros. Ora, se é (obviamente) verdadeira a existência de imigrantes criminosos, daqui não se pode inferir que a imigração, em geral, seja responsável pelo aumento da criminalidade, em geral. Esta absolutização do particular é a raiz de toda a proclamação ideológica.
A ignorância está patente numa frase que não suporta o exame dos factos: “Porque é que os imigrantes do Leste não ficam em França e Espanha? Porque correm com eles… e acabam por ficar por aqui”. Não é verdade. Segundo os últimos censos (realizados por volta do ano 2000), viviam na altura em Espanha 149.765 estrangeiros oriundos da Europa do Leste (e 88.802 em França). Hoje viverão um pouco mais.
2. A xenofobia não aparece por acidente, é apenas parte de um discurso globalmente reaccionário, patente na reivindicação de penas de prisão mais elevadas para crimes violentos e, em especial, do fim do regime do cúmulo jurídico — o que, na prática, equivaleria a introduzir em Portugal a pena de prisão perpétua. Curioso é o facto de tal reivindicação surgir a propósito da avaliação da pena com que foi condenado o acusado de ter assassinado dois polícias, não de uma qualquer reflexão geral fundamentada sobre a criminalidade em Portugal. Com estas declarações em causa própria, os dirigentes do Sindicato dos Profissionais de Polícia estão em vias de confundir justiça com vingança. E como a vingança não é antídoto para a violência, ficamos assim em risco de ver o SPP tornar-se parte do problema da insegurança, por criação interessada de alarmismo social, em vez de parte da sua solução.