quarta-feira, 5 de julho de 2006

Portugal-França, 1986

"Pouco antes do início de uma representação teatral, um desconhecido entra em cena para expor o seu "próprio caso". Logo é interrompido por um trabalhador do teatro, depois por uma actriz, até ao autor e por fim toda a companhia. Cada qual acaba por falar do seu " próprio caso" e gera-se a discussão. A cena vai finalmente ter lugar, mas tudo recomeça da mesma maneira. Ouve-se então um texto de Beckett. Mais uma vez sobe o pano, desta vez o som está ao contrário, uma verdadeira Torre de Babel! Seguidamente assiste-se ao diálogo de Job com Deus, com os mesmos actores da peça a fazerem de amigos de Job. No final, Job e a mulher são felizes na Cidade Ideal de Pierro della Francesca." (Sinopse de "O meu caso", filme luso-francês, realizado por Manoel de Oliveira)

Um encontro Portugal-França, com duração de cerca de 90 minutos (87 para ser mais preciso) a não deixar de ver, esta noite, por quem se interrogue sobre o que vale o indivíduo perante a exaltação colectiva. Eu, que gosto muito do filme, vou fazer um intervalo para, nessa mesma exaltação, acompanhar o jogo em ecran gigante, com fervor nacionalista, numa esplanada de Bucareste. É que não faço parte dos bloguistas futebol-exaltados nem dos futebol-entediados. O meu caso não é esse. Nem o de Manoel de Oliveira, que foi atleta e corredor de automóveis. Como disse o próprio a João Benard da Costa, em afirmação reproduzida na biografia incluida num dossier especial da Madragoa Filmes (a que pode aceder através do link da sinopse do filme) e vale a pena repetir hoje, quer aos exaltados quer aos entediados, quer ainda aos apáticos: "O Meu Caso é feito de bocados separados, que aparentemente não têm ligação nenhuma uns com os outros. Mas há um substracto comum. E esta é a ideia de O Meu Caso".