E se não estivessemos numa presidência finlandesa?
A reacção dos líderes europeus à condenação à morte de Sadam Hussein no último fim-de-semana da campanha eleitoral nos EUA (terá sido Carl Rove a escolher a data do anúncio?) não retirou nenhuma credibilidade ao tribunal que o julgou porque ele já não a tinha. Os crimes de Saddam contra a humanidade deveriam ter sido julgados pelo Tribunal Penal Internacional, como os da ex-Jugoslávia ou os do Rwanda e não submetidos ao simulacro de justiça ad hoc que funcionou em Bagdad.
Mas a reacção dos líderes europeus só evoluiu positivamente de forma clara nas últimas horas e, em particular, depois do comunicado da presidência finlandesa que recordou o que parece que tinha deixado de ser óbvio, isto é, que os europeus são contra a pena de morte. Só depois dele o governo britânico corrigiu o discurso e a contragosto. Só depois disso, o nosso Presidente da República comentou o caso, numa frase com que concordo a cem por cento.
Os defensores dos direitos humanos na Europa têm que estar gratos à coincidência da presidência finlandesa com as eleições intercalares americanas. Se estas tivessem caído no meio de uma presidência britânica, desconfio que a Europa ainda estava a gaguejar numa condenação que devia ser cristalina.