quarta-feira, 8 de novembro de 2006

New Direction?

As eleições de ontem para o Congresso dos Estados Unidos são o que em ciência política se costuma chamar «eleições de segunda ordem» - eleições em que não está em causa a formação do Governo e nas quais, portanto, os eleitores podem mais facilmente «votar com o coração» ou «dar cartões amarelos ao Presidente». São eleições em que, habitualmente, a abstenção é maior e nas quais, tendencialmente, o partido que está na oposição tem mais possibilidades de sucesso. Claro que esta tendência é potenciada quando há, como agora havia, descontentamento em relação à acção política, económica e financeira da Administração. Numa situação destas, ao Presidente resta apostar na mobilização dos fiéis. Mas essa era ontem uma missão impossível. O Iraque e escândalos vários deram cabo de uma imagem de partido da segurança, do equilíbrio orçamental, da moral e dos bons costumes que os republicanos foram laboriosamente construindo. Os democratas tiveram o mérito de explorar isto, transformando as midterms num referendo ao Presidente. Sem dúvida. Mas pensar que estamos perante uma viragem na cultura política norte-americana é algo precipitado. O alcance ideológico desta viragem eleitoral não tem comparação com o que se passou com a vitória republicana de 1994. Nessa altura, os republicanos ganharam com base numa agenda que reuniu várias correntes conservadoras e que tem conseguido dominar os termos do debate político. Ontem, os republicanos perderam, mas nem por isso a agenda conservadora deu lugar a uma agenda liberal minimamente estruturada. Depois de Clinton, os democratas transformaram-se numa federação de causas dispersas (como se lê num livro recente do autor do dailykos), e não se vê que já tenham encontrado uma plataforma capaz de competir com o conservadorismo dominante. Pelo contrário: ontem, os democratas ganharam onde apresentaram candidatos alinhados com o discurso conservador. Já nem falo da evolução ideológica da senhora Clinton. Lieberman, agora independente, ganhou ao candidato liberal no Connecticut. E ontem à noite ouvi um candidato democrata ao Senado agradecer dez vezes ao «Lord», num discurso de vitória que durou cinco minutos. Entretanto, e de acordo com a última edição do Economist, o top 10 de livros políticos da Amazon.com é este mês exclusivamente ocupado por autores conservadores.