sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Olá Roisinha


Desde que fez os geniais Around the House e Bodily Functions, Mathew Herbert tem andado um pouco perdido, baralhado pelo peso conceptual que quer dar aos seus discos e não menos pela vulgata política em que os envolve. Enquanto trabalhou com os sons de casa e com os do corpo humano, fez dois dos discos da vaga electrónica dos anos 90 que melhor envelheceram, depois disso, discos bons, alguns agradáveis, mas a anos-luz do resto. Isto tudo porque, depois de Bodily Functions, o melhor disco de Herbert não é seu, mas sim de Róisín Murphy – que fez por momentos as vezes da sua Dani Siciliano. Confuso? não. Ruby Blue (2005), o álbum de estreia a solo da ex-Moloko, é Herbert vintage, com as habilidades técnicas do costume a servirem o formato canção (ainda as camadas de micropartículas musicais sobrepostas que são imagem de marca). Róisín ganha em versatilidade vocal a Dani Siciliano (isto para não falar do impacto da “tight sweater” que, conta a lenda, ela vestiu um dia, fazendo com que os Moloko prometessem muito, se bem que nunca o concretizassem). A rapariga tem, não há dúvida, manifestos encantos – sendo que entre eles está uma capacidade ímpar de manter a classe mesmo perante o apelo incontrolável da pista de dança. Aqui, entre a maquinaria e os computer nerds, revela algumas das qualidades das ruivas (à atenção do Miguel Marujo).
A propósito, não consegui converter ninguém – nem mesmo os herbertianos incondicionais – a este álbum. Pode ser que por aqui ganhe alguém para a causa. Entretanto, os verdadeiramente interessados podem, com jeito, encontrar no YouTube todo o espectáculo da garota.