O subliminar e a política
A Comissão Nacional de Eleições, em resposta a uma questão solicitada pela Associação República e Laicidade, emitiu a orientação de que não deve haver outros símbolos que os da República nas mesas de voto do próximo referendo sobre o aborto.
Ao agir assim, na minha opinião, cumpriu bem a sua missão de garantir as condições de isenção para a realização daquele acto.
Só me surpreendeu a magreza da maioria que aprovou esta medida na CNE (4 contra 3). Como não conheço os fundamentos invocados pelos votos vencidos, não posso ajuizar sobre eles, mas posso colocar algumas questões.
Acharão, os vencidos em consciência que, no tema do aborto, a existência de um símbolo religioso num local de voto é neutra face ao que está a ser decidido? Se não o acham, porque não julgam que a CNE deve garantir que eles lá não estejam? Julgarão que só a propaganda explícita interfere com o sentido de voto? Exercendo funções tão importantes na fiscalização de actos eleitorais nunca ouviram falar do recurso a mensagens subliminares no marketing político (como na publicidade) ou não lhe conferem relevancia?
Não li nas notícias nem, confesso, fui ainda à procura de saber quem são os membros da CNE que votaram vencidos, mas fiquei com curiosidade de saber quem são, por que entidades foram indicados e que fundamentos invocaram no seu voto. Ponho a hipótese de que quando tiver essa informação fique mais esclarecido sobre o significado desse gesto que, à primeira vista, me parece incompreensível.