quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Conveniências

Segundo a página do Expresso na net, «Manuel Antunes, director do serviço de cirurgia cardiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra, questionou hoje a participação de José Sócrates na campanha para o referendo sobre o aborto, considerando “despropositado” que este “utilize o poder que obviamente tem” como primeiro-ministro para favorecer o “não”».
Estando em causa no referendo uma questão de política (e não de consciência), todos os cidadãos têm o direito de se pronunciar sobre a escolha em causa. E os cidadãos que ocupam lugares políticos têm não só o direito como o dever de o fazerem. Não percebo por isso a crítica de Manuel Antunes. Será que o que ele quer dizer é que quem tem capacidade para influenciar a decisão de outros (isto é, quem tem poder) não deve usar essa capacidade? A ser assim (o que seria estúpido), o próprio deveria ser mais discreto, pois é óbvio que o facto de se apresentar como médico com funções de direcção visa obter autoridade extra para intervir no debate sobre o referendo. A autoridade de quem ocupa um lugar de poder pericial.
Por que razão o uso da influência do estatuto de médico é legítimo e o uso da influência do estatuto de primeiro-ministro não o é?
Porque convém…