domingo, 18 de fevereiro de 2007

Maravilhas de Portugal #2

1. É normal que a primeira reacção de quem vê as pirâmides do Egipto seja de admiração pela grandiosidade da coisa e pela façanha técnica que representa. Porém, pensando melhor e mais friamente, a obra sendo monumental é também revoltante. Só em tempos de grande desumanidade seria possível tamanho desperdício de recursos e de vidas com a construção do túmulo de um indivíduo.

2. Infelizmente, é mais difícil o encantamento com a utilidade mesmo quando monumental. Veja-se o que acontece com um dos mais geniais desenvolvimentos da era contemporânea, o das redes de infra-estruturas: de electricidade, de água, de esgotos, de gás, de comunicações... Que permitem depois o funcionamento de comodidades prosaicas como o quarto de banho ou a iluminação doméstica.

3. Para essa indiferença pelas maravilhas que sustentam a comodidade do nosso quotidiano contribui o facto de as redes de infra-estruturas serem em geral invisíveis porque enterradas. A mesma razão por que os túneis são menos admirados do que as pontes, ao ponto de o túnel sobre a Mancha não constar da lista das novas 7 maravilhas do Mundo, apesar do seu estatuto mítico.

4. Há, porém, e há muito, elementos visíveis dessas redes que as podem simbolizar com eficácia. Como os aquedutos que constituiram um primeiro esforço humano para colocar a obra monumental ao serviço de objectivos pacíficos e socialmente úteis, ainda por cima com realizações de grande beleza. Em Portugal, destacam-se dois: o de Elvas e o das Águas Livres. O segundo, que ainda pode ser observado em funcionamento, é a minha escolha de hoje. Pelo que representa de excepção num legado de templos, palácios e fortificações (ou de túmulos faraónicos).