O problema do PSD
Quando há cerca de 10 anos a JS de Sérgio Sousa Pinto apareceu a defender a despenalização do aborto, o PS de Guterres ficou embaraçado. A partir de então, sempre que se falava do assunto, falava-se de problemas para o PS. Mesmo durante a liderança de Ferro e nos primeiros dois anos de Sócrates foi essa a perspectiva dominante na análise política, desde logo porque o reposicionamento do PS passava por ganhar um novo referendo. De repente, foi como se tudo tivesse mudado a 11 de Fevereiro de 2007: afinal, a questão fracturava essencialmente o PSD, dividido entre um grupo de elites e eleitores conservador (maioritário à direita) e um grupo mais liberal (minoritário, embora importante para obter maiorias eleitorais).
Mas, na verdade, este problema do PSD com as «questões fracturantes» não começou agora nem se resume ao aborto. Bem vistas as coisas, o problema já se podia adivinhar há algum tempo: pelo menos, desde o início desta legislatura (Março de 2005). Quando se discutiu a Lei da Paridade, a Lei do Protocolo de Estado (que reduziu a preponderância das Forças Armadas e da Igreja Católica), a Lei da Nacionalidade ou o projecto do CDS que visava reduzir a idade da imputabilidade de menores para os 14 anos foram visíveis, através de algumas intervenções públicas e declarações de voto, as divergências na bancada do PSD. E mais recentemente, foram aprovados na Assembleia da República dois projectos-lei: um sobre procriação medicamente assistida; outro sobre implementação de projecto-piloto de troca de seringas em meio prisional. No primeiro caso, com inteira liberdade de voto, 8 deputados do PSD votaram a favor e 21 abstiveram-se (em 75 deputados). No segundo caso, 20 deputados do PSD manifestaram a sua discordância com a direcção da bancada através de declarações de voto favoráveis ao programa de troca de seringas.