terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

É no dia 11

Marcam uma conferência de imprensa a uma semana do referendo e chegam com um ar salvador de quem vem tranquilizar todas as consciências. Nove anos depois do último referendo; vinte e três anos depois da actual lei.

Dizem que, afinal, votar sim é outra coisa qualquer e que quem é pelo “sim” à despenalização deve votar “Não” à despenalização. Dizem que a mulher que abortar há-de ser uma criminosa de um crime sem pena, mas também sem perdão. Anunciam que esta era a resposta que o país esperava há 9 anos, e que esperava agora, sem saber. Dizem que resolveram o referendo e que resolvem o problema como num truque de magia, com a cartinha que hão-de enviar à Assembleia da República para acabar com a penalização das mulheres. Mas, afinal, condenam-nas ao aborto clandestino e a uma espécie de perdão hipócrita.

Chegam, e só trazem o maior desrespeito à Democracia. Dizem que afinal o voto de todos já não é necessário, já não conta. O que conta é a tal cartinha e votar “Não”, pasme-se, para despenalizar. Chegam acompanhados do segundo partido mais representado no parlamento – o tal que supostamente não tem posição oficial; o tal que esteve na origem do primeiro referendo, e da formulação da pergunta.

De tudo isto, daquela conferência de imprensa, fica um partido político a dizer a todos que os votos afinal não contam; ou que contam ao contrário. Que a pergunta aprovada (criada e votada por eles próprios) afinal não vale, que o Referendo que tanto quiseram não serve. A mensagem, entendamo-nos, é esta: tudo deve ficar na mesma (retirando só aquilo que dizem que já não acontece – a condenação no tribunal). Entretanto, business as usual. Com mulheres a morrer, com aborto de vão de escada, com feridas que não saram, com investigações, com devassa da vida das pessoas, sem nenhum tipo de cuidados ou de informação. No fim, porque são muito bonzinhos, ninguém é julgado.

É no dia 11 que se resolve a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. É no dia 11 que se dá o passo para acabar com o aborto clandestino. É no dia 11, e é votando SIM.