E podem? E devem?
Que Portugal tem uma elevadíssima percentagem de gravidezes adolescentes, é um facto tão incontestável quanto os resultados do recente referendo nacional sobre a despenalização da IVG.Que Daniel Serrão é um professor de medicina com posições ultra-conservadoras, também.Que o Hospital da CUF pode comprar e pagar consultoria a quem bem entender, idem-idem, aspas-aspas.Mas alguém me explica onde pára o Bastonário da Ordem dos Médicos - que ainda há poucos meses arranjou tempo e vontade para cantar hossanas em louvor dos médicos que protestaram contra o controle da assiduidade num hospital público - quando se repetem notícias de que a administração de hospitais privados pretende limitar a liberdade profissional dos obstetras em práticas profissionais legais, como a prescrição da pílula do dia seguinte ou a prática da IVG nas condições legalmente previstas?E, já agora, podem as instituições públicas ter protocolos de colaboração com instituições privadas que impedem actos médicos privados legalmente legítimos?E, por último, se os juristas concluirem que as leis da República podem ser detidas à porta dos hospitais privados por decisões duma qualquer administração de empresa, sempre restará a questão política: e devem os dinheiros dos contribuintes servir para alimentar lucros privados de instituições refractárias às leis da República?