segunda-feira, 12 de março de 2007

Raízes...

1. A última edição do Expresso (10/03/07) incluía um interessante e divertido artigo sobre o impacto territorial das novas vias rodoviárias. Intitulado “Um país a encolher” (pp. 20-21), era ilustrado com alguns dados simples sobre a redução do tempo nas ligações entre as principais cidades do país: Lisboa-Porto fazia-se, em 1973, em 5h09, contra 2h49 em 2007 (e ainda não há TGV...).

2. Numa caixa à margem, a referência ao “lado perverso da revolução rodoviária”. Segundo o jornalista, “Fernando Nunes da Silva, docente universitário e especialista na área dos transportes, (...) alerta para os dois lados da moeda. Por um lado, maior acesso do interior a bens e serviços, nomeadamente com algum grau de sofisticação. Por outro, um efeito perverso que tem a ver com a quebra dos laços tradicionais que mantinham as pessoas presas às terras de origem, com a consequente migração para as cidades do litoral dos elementos mais jovens e dinâmicos, em busca de emprego qualificado”.

3. Naquela longa citação, a expressão-chave é “a quebra dos laços tradicionais”. Como as estradas não cortam laços sociais, convém traduzir a retórica. E esta significa, simplesmente, que as pessoas deixaram de viver na ignorância de alternativas de vida. Os laços que explicavam a permanência eram os que resultavam do desconhecimento, os que resultavam da colocação das pessoas numa situação de não escolha. Não consigo perceber por que razão é o fim dessa situação, negativamente definida, um “lado perverso” da mudança. Parece-me mais o outro lado positivo da mesma mudança.

4. Em boa verdade, o argumento soa a salazarento: se os mantivéssemos isolados e ignorantes, a tradição estaria salva e com ela o território. Ainda que à custa das pessoas...