quinta-feira, 29 de março de 2007

"Não vou por aí"

Há um hábito muito enraizado entre nós no debate público: fazer-se uma afirmação – que normalmente desperta uma ideia latente, mas que ninguém por pudor, bom senso, princípios ou civilidade quer trazer para o debate – para logo a seguir dizer-se, “bem, mas eu acho que não se deve ir por aí”. No entretanto, já se fez o servicinho de trazer o tema à liça. Hoje no Público, José Manuel Fernandes não resiste: “a ex-militante do CDS nunca deixou de dizer o que pensava em momentos cruciais, mas a verdade é que também nunca disse tudo. Por exemplo: reconhece-se na defesa, protagonizada pelo seu marido, de que Salazar ficava bem no lugar de melhor português de sempre? Não sabemos. Nem perguntamos.”
Eu, por acaso, gostava mesmo de saber porque razão alguém tem de responder ou pronunciar-se sobre as ideias de outro apenas por ser seu familiar, próximo ou afastado, e, também, porque razão a um director de um jornal ocorre escrever tal coisa. Como sempre em Portugal, o espírito liberal, tantas vezes proclamado, não resiste ao mais elementar teste. Na verdade, não é só o que aconteceu no CDS que é muito triste.