sexta-feira, 4 de abril de 2008

Bastante sabe quem se calar sabe

Segundo o DN, Pinto Monteiro […], de acordo com o Portugal Diário, garantiu ter “elementos seguros” de que “há alunos que levam pistolas de 6,35 e 9 mm para as escolas. Para não falar de facas, que são às centenas”. // Contactado pelo DN, no sentido de esclarecer quais os “elementos” que serviram de base a esta afirmação, o gabinete de imprensa do PGR respondeu: “A Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa auxiliada por especialistas efectuou um estudo e uma investigação no terreno num concelho limítrofe de Lisboa, tendo apurado que jovens dos seis aos 23 anos, muitos deles frequentando estabelecimentos escolares, andam armados de pistolas 6,35 e 9 mm.”

Entre os seis e os 23 anos estão inscritos em Portugal, em todos os níveis de ensino, um pouco mais de milhão e meio de alunos. Ao que parece, algumas centenas levarão facas para as escolas e menos (umas poucas centenas? algumas dezenas?) armas de fogo. É grave que isso aconteça, mas não se percebe por que razão com uma tal taxa de incidência se vem alarmar a opinião pública como se estivéssemos perante uma vaga de comportamentos violentos generalizados e sistemáticos. Entendamo-nos: claro que é grave o porte de armas brancas e de fogo por jovens, na escola ou fora dela. Claro que estes factos devem ser reprimidos e prevenidos pelas autoridades policiais, se possível com a reserva necessária para evitar efeitos de mimetismo. Porém, até por isso, não é legítimo criar todo o alarmismo dos últimos dias, como não é aceitável que, demagogicamente, se misturem os factos da violência, real ou potencial, com as notícias sobre a indisciplina escolar. Quando se faz essa mistura cria-se a percepção de que o tratamento da indisciplina escolar deve ser judicializado, dando-se assim uma machadada final na autoridade docente. E não só; como se sabe, o excesso de judicialização degrada a auto-regulação moral que, ao mesmo tempo, bem ou mal, se reclama ser necessário desenvolver entre os jovens.
Há cargos em que se esperaria ser a discrição institucional um dos requisitos do seu desempenho.