domingo, 18 de maio de 2008

Complementaridades germano-russas

A atracção entre a Alemanha e a Rússia produziu no século XIX a Liga dos três Imperadores (Dreikaiserbund), que reunia estes países e a Áustria-Hungria num eixo oposto, no fundo, à França e ao Reino Unido.
Essa atracção está de volta. O renascimento russo a que se está a assistir, baseia-se economicamente nos recursos gerados pelas exportações energéticas, ancora-se politicamente no regime de sistema eleitoral pluralista semiautoritário tutelado pelo partido Russia Unida e tem na Alemanha o seu principal parceiro externo.
Segundo o Herald Tribune, a Alemanha exportou no no passado para a Rússia €28.1 biliões, sobretudo em maquinaria pesada, En contrpartida, importou da Rússia €28,7 essencialmente em gaz natural. A Alemanha é o maior parceiro comercial da Rússia e o seu maior cliente energético. A complementaridade é óbvia – a Rússia necessita de tecnologia para sustentar o crescimento; a Alemanha necessita de gás para alimentar o seu poder económico. Em ambos os casos se trata de recursos estratégicos cuja gestão pressupôe forte confiança política recíproca.Os rituais diplomáticos germano-russos também são claros. A encenação da transmissão de poderes no Kremlin permitiu a Merkel um encontro a três com Putin e Medveded uma semana após a eleição deste último. Agora o chefe da diplomacia alemã (e ex-chefe de gabinete de Schröder) foi recebido por Medveded uma semana após o início oficial de funções. Seinmeier levou consigo uma delegação de empresários e trouxe na bagagem a notícia de que os kaisers se encontrarão antes da cimeira do G-8 e haverá uma cimeira russo-germânica no Outono em São Petersburgo.
A dinâmica a que estamos a assistir já nada tem que ver com a expansão do ocidente para Leste. Os dois gigantes estão a redescobrir quanto são complementares e a caminho de uma zweikaiserbund de múltiplas repercussões ainda não avaliadas.

PS. A foto é da AP e foi tirada 18 de Dezembro de 2007 numa conferência de imprensa na sede da Gazprom, na qual esta empresa e a German BASF/Wintershall anunciaram investimentos num campo de gás natural que assegura as exportasões para a Alemanha nos próximos 15 anos.