Complexidades
Continuando as reflexões sobre mercado, finanças, complexidade e regulação.
1. O défice de regulação das operações financeiras tem sido por muitos apontado como um dos factores na origem da presente crise. Parte desse défice tem origem no aumento da complexidade dos produtos financeiros, parte na progressiva diluição das fronteiras entre agentes financeiros: por exemplo, bancos fazem de seguradoras e estas de bancos, ou seja, produção e cobertura do risco reúnem-se debaixo do mesmo tecto.
2. A possibilidade de regular com mais eficácia o mundo financeiro pós-crise dependerá provavelmente da reintrodução de uma antiga regra conhecida por todos os que conhecem minimamente o conceito de evolução: a gestão de um conjunto complexo é facilitada com a especialização das partes que compõem esse conjunto. No caso, com a (re)especialização dos agentes financeiros.
3. Infelizmente, contributos importantes do evolucionismo como o atrás referido tendem a ser ignorados por uma imensa maioria dos que, críticos das velhas narrativas evolucionistas globais, deitam fora a criança com a água do banho, pela confusão entre duas afirmações de desigual validade: é correcto negar que todos os processos dinâmicos sejam evolutivos; é incorrecto passar daqui para a afirmação de que não há processos evolutivos.
4. Retendo a ideia de que há processos evolutivos, talvez não fosse má ideia olhar para as dinâmicas conducentes à crise financeira caracterizadas por incrementos exponenciais de complexidade e avaliar riscos e ganhos que se obteriam com a imposição de uma maior diferenciação de produtos e agentes no mundo da finança. Imposição, pois também se aprendeu com a crítica do velho evolucionismo social que a eventual necessidade de soluções evolutivas não se traduz automaticamente na emergência dessas soluções — apesar do deleite de João Carlos Espada com as “instituições espontâneas”.