Um Nobel contra a desigualdade
1. O blogue de Paul Krugman tem por título A Consciência de Um Liberal, o mesmo do livro publicado este ano em que critica as políticas de desigualdade da direita americana e defende a retoma de políticas sociais reformistas como as do New Deal de Roosevelt. O Nobel é por isso, independentemente das justificações dos seus patrocinadores, um prémio contra a desigualdade. Mais do que merecido.
2. Krugman é um economista de esquerda, como destaca João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas, mas da esquerda representada pela vitória eleitoral do Partido Social-democrata Sueco em Outubro de 1917, não pelos herdeiros da revolução russa. Por isso quer a regulação dos mercados, nacionais e globais, e a redução das desigualdades, não a superação do mercado. As políticas neoliberais da direita são o seu alvo, não o capitalismo. Nem a globalização. Apesar de uma discrepância curiosa…
3. Segundo João Rodrigues, “Krugman, cada vez mais crítico, defende hoje que a globalização pode ter impactos muito negativos. Por exemplo, na distribuição do rendimento”. Na entrevista à Alternatives Économiques que João Rodrigues recomenda, e para onde faz a respectiva ligação, a questão é assim tratada:
[A.E.] Quel est le rôle de la mondialisation dans la montée des inégalités?
[P.K.] Elle devrait en principe y contribuer, mais alors que les forces de la mondialisation affectent tous les pays développés de la même façon, la répartition des revenus est différente selon les pays. Les Etats-Unis font partie de ceux dans lesquels les inégalités se sont beaucoup accrues. C'est moins vrai au Canada, qui est pourtant aussi ouvert que nous, et c'est moins vrai en Europe continentale. Les inégalités ont beaucoup progressé au Royaume-Uni, mais cela s'est produit essentiellement durant les années Thatcher. Les conditions politiques nationales l'emportent donc sur la mondialisation, et c'est aux Etats-Unis qu'elles ont créé une progression massive des inégalités.
4. Como já referi aqui no Canhoto, o contributo fundamental de Krugman consiste na demonstração da tese da origem política da desigualdade (e da equidade), contrariando os álibis para a impotência invocados pelos que procuram, no ambiente da acção política (a Europa, a globalização, …), a desculpa para a desistência das reformas. Que, como também Krugman salienta, podem ser socialmente eficazes e economicamente viáveis.