segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Para onde estão a ir os blocos eleitorais?

Por várias vezes tenho escrito sobre os fundamentos políticos da existência de três blocos políticos em Portugal. A relação de forças entre eles parece estar a mudar. Nas eleições de 2005 a percentagem de votos à direita do PS foi a mais baixa de sempre e a percentagem de votos à sua esquerda foi a mais alta desde a queda do Muro de Berlim.

Os observadores parecem, contudo, coincidir em pensar que o PS renovará a maioria absoluta porque vai conseguir comprimir ainda mais a direita e que o espaço à esquerda do PS continuará a crescer nas próximas eleições.

Se assim fosse, o menos grave seria a alteração de morfologia eleitoral. O problema residiria em que se tal fronteira surgisse como natural, a mudança morfológica representaria no plano político-ideológico que o PS desistiria da esquerda. Que alternativas poderá haver no espaço do centro-esquerda, seja dentro do PS, seja com ou sem o PS?

Para as pensar, o essencial são as medidas de política, mas julgo que vale a pena também olhar os resultados das eleições para a Assembleia da República no nosso período constitucional e o que deles se pode extraír.


  1. A morfologia partidária dos três blocos políticos

O espaço do centro-direita e direita teve sempre um grande partido, o PSD e um pequeno partido parlamentar, o CDS, sem que nenhuma outra das forças que ao longo do tempo concorreram neste espaço eleitoral tenha alguma vez reunidp os votos necessários a que tivesse representação parlamentar autónoma.

O centro-esquerda e a esquerda moderada tiveram o PS como protagonista central e quase único, com excepção do ciclo fugaz (1985 a 1987) da existência do PRD.

A esquerda comunista e radical sofreu uma mutação significativa em 1999, dado que passou de uma polarização no PCP acompanhada de uma dispersão de múltiplas pequenas forças (a que se chamou extrema-esquerda), que nunca tiveram força parlamentar e deixaram mesmo de eleger qualquer deputado a meio dos anos 80 para uma organização bipolar, em que o PCP e o BE são, ambos, forças parlamentares significativas.


  1. A evolução da relação de forças

As três décadas de eleições parlamentares já nos permitem chegar a algumas conclusões sobre a evolução da relação de forças entre os três blocos políticos (ver gráfico abaixo).

Entre 1976 e 1995 o conjunto dos votos no bloco da direita foi sempre superior ao da esquerda moderada, mesmo quando esta ganhou as eleições. Entre 1995 e 2002, apesar das vitórias do PS, este apenas tangencialmente bateu o conjunto do centro-direita. Em 2005, pela primeira vez, o PS teve um número de votos significativamente mais alto que o bloco à sua direita.

Na àrea da esquerda comunista e radical há a registar o longo declínio que começou em 1979 (muito antes do surgimento de Gorbachov na URSS) e que o levou a atingir o seu ponto mais baixo em 1991, eleições nas quais se terá reflectido a estrondosa desagregação do bloco comunista. Entre 1991 e 2002, o peso eleitoral deste pólo do sistema político é estável mas, de 2002 para 2005 ele regista uma subida significativa que pode ser uma inversão de tendência.














  1. Para onde estão a ir os nossos blocos eleitorais?

As próximas eleições dirão se os resultados de 2005 são excepcionais e devidos à hecatombe de Pedro Santana Lopes ou o início de um novo ciclo na política portuguesa, em que se assistirá a uma inversão de posições nos blocos políticos de direita e de centro-esquerda, com esta última a conseguir com facilidade mais votos que o centro-direita a menos que à sua esquerda o dinamismo de crescimento a impeça.

Caso se verifique que não se trate de uma excepção, o PS está a “empurrar” o centro-direita a a ser “empurrado” para o centro. Nas eleições de 2005 a percentagem de votos à direita do PS foi a mais baixa de sempre e a percentagem de votos à sua esquerda foi a mais alta desde a queda do Muro de Berlim (ver gráfico abaixo).

Os observadores parecem, contudo, coincidir em pensar que o PS renovará a maioria absoluta porque vai conseguir comprimir ainda mais a direita e que o espaço à esquerda do PS continuará a crescer nas próximas eleições.

Se for esse o caminho e se construí-lo desse modo for a opção da direcção do PS, ela estará a ajudar a erigir uma fronteira eleitoral que torna o PS num harmónio que apenas cresce ou diminui por relação com o espaço à sua direita.

Se assim fosse, o menos grave seria a alteração de morfologia eleitoral. O problema residiria em que se tal fronteira surgisse como natural, a mudança morfológica representaria no plano político-ideológico que o PS desistiria da esquerda.

Não me revejo num centro-esquerda aprisionado politicamente pela sua dependência eleitoral da sua direita, ainda que vitorioso, nem, como repetidas vezes já afirmei, há sinais de que a esquerda comunista e radical esteja perto de saír do irrealismo em relação ao exercício do poder em que vive. Que alternativas poderá haver no espaço do centro-esquerda, seja dentro do PS, seja com ou sem o PS?