Vias novas sem velhos vícios
1. Manuel Alegre, no artigo citado pelo Paulo aqui no Canhoto, defende que a renovação da esquerda europeia passa por uma “via nova”, não por “segundas ou terceiras vias”. Em rigor, a esquerda não precisa de novas vias mas de um permanente impulso para a renovação. Porém, seja com novas vias ou com um trabalho sistemático de actualização, a esquerda só poderá melhorar se basear a sua renovação num mínimo de cumulatividade, em lugar da permanente “reinvenção da roda”. A cumulatividade requer, por sua vez, confronto crítico, não o fechamento doutrinário sectário.
2. Neste contexto, esta observação do Filipe no País Relativo faz sentido. Muita da crítica à “terceira via” é fruto da combinação entre preconceito ideológico e ignorância pura e simples sobre o conteúdo das propostas dos ideólogos da dita. Ora, não será “nova” qualquer via de renovação da esquerda que comece por repetir propostas de outras vias, que define como concorrentes, por desconhecimento sectário das mesmas. A renovação da esquerda, em Portugal como em qualquer outro lugar, requer a incorporação crítica de contributos diversos, incluindo os da “terceira via” (ou os da “via nova”), não o seu banimento e caricatura.
3. Ler Giddens, por exemplo, não obriga a uma atitude de santificação beata do tipo da de João Carlos Espada quando se refere a Popper. Mas Giddens também não tem “sarna de direita”. Não o ler à esquerda poderá constituir motivo de satisfação para quem, conservadoramente, se encerrou já numa qualquer fortaleza ideológica; não contribuirá, certamente, para descobrir vias novas para repensar a esquerda.