terça-feira, 4 de novembro de 2008

A insustentável inocência do dificultismo

1. Segundo António Barreto, no Público (02/11/08), a melhoria dos resultados nos exames nacionais do último ano lectivo não será explicável por eventuais melhores aprendizagens, dado o tempo das reformas ser para tal insuficiente, apenas por facilitismo avaliativo. Inocentemente, ou talvez não, a suspeita de agora sobre o eventual desajuste da avaliação nunca é usada para interrogar os resultados do passado. Suspeita-se pois que, para António Barreto, o insucesso seja natural, e portanto não sejam problemáticos processos de avaliação eventualmente dificultistas. Logicamente insustentável, o pressuposto é no entanto de uma clareza total no plano ideológico.

2. A mesma clareza que anima o editorial de José Manuel Fernandes no suplemento do Público de ontem dedicado aos famosos rankings das escolas (também designáveis por classificações ordenadas das escolas). Consideremos o caso mais polémico, o do exame de Matemática. De acordo com um quadro inserido nesse mesmo suplemento, a diferença entre as médias das notas internas das escolas e as médias das notas de exame passou de 4,64, em 2006, para 2,38, em 2007, e para -0,83, em 2008. Ou seja, começam a ajustar-se, finalmente, as notas de exame e as notas de escola, embora, com variações. De facto, e consultando as listagens disponibilizadas pelo Público, verifica-se que as escolas com mais alunos com melhores notas (as mais bem classificadas no ranking) tiverem em geral uma nota interna inferior à nota de exame; pelo contrário, as escolas com mais alunos com piores notas (as menos bem classificadas no ranking) tiveram, em geral, uma nota interna superior à nota de exame. E isto, sublinhe-se, tanto nas escolas públicas como nas escolas privadas. Em resumo, a média é uma média com sentido que não resulta nem de um nivelamento por cima, nem de um nivelamento por baixo, mas… de um nivelamento pela média.

3. Ora, José Manuel Fernandes concorda com o facto de estas diferenças deverem ser tidas em conta, mas sempre da mesma forma: o exame é bom quando dele resulta uma nota média claramente maior do que a nota média interna. Neste caso não há dificultismo. Pelo contrário, sempre que as notas de exame se aproximam das notas internas há facilitismo. Estamos conversados. Mas a inocência foi já há muito perdida.