Irresponsabilidades
Segundo Manuela Ferreira Leite, em entrevista ao DN de domingo, os programas de obras públicas apenas ajudariam a combater o desemprego de Cabo Verde ou da Ucrânia. Quanto “ao desemprego de Portugal duvido, porque nós temos jovens licenciados desempregados. Não está a querer mandá-los para as obras públicas!” A tese, para além de errada, é irresponsável.
1. Errada, porque, em Portugal, a população activa jovem inclui ainda muitas centenas de milhares de jovens com baixas e muito baixas qualificações, não sobretudo licenciados. Errada ainda porque finge ignorar os efeitos indirectos das obras públicas sobre o emprego, quer através das encomendas às empresas quer através do consumo.
2. Mais importante ainda, é profundamente irresponsável. Como já referi aqui no Canhoto, com a crise virá também um aumento das pressões discriminatórias no emprego alimentadas pela xenofobia e o racismo. Desvalorizar como dispensáveis os empregos que habitualmente são preenchidos em maior proporção por imigrantes alimenta, queira-se ou não, as reivindicações clássicas da direita populista e da extrema-direita caceteira do tipo “os portugueses primeiro” ou “eles estão a roubar-nos os nossos empregos”.
3. Eu sei que Manuela Ferreira Leite não produziu uma declaração xenófoba daquele tipo. Apenas uma afirmação profundamente irresponsável tendo em conta o papel que agora representa de candidata a primeiro-ministro. No contexto de crise que estamos a viver dispensava-se esta acha para a fogueira dos demónios nacionalistas.