terça-feira, 25 de novembro de 2008

Mário Soares: um recado prudente aos sindicatos de professores e à Ministra da Educação

Ao contrário dos que desejam que a situação na avaliação de desempenho dos professores não tenha conserto, Mário Soares dedica um ponto do seu artigo de hoje no DN a dar um sábio e prudente conselho aos intervenientes na polémica. Escreve ele:

"Desta vez, a ministra da Educação mostrou-se flexível. Aceitou modificações no modelo proposto de avaliação, designadamente no que se refere "aos tão criticados "tipos de burocratização" do sistema. Contudo, num primeiro tempo, os sindicatos manifestaram-se intransigentes pela voz de Mário Nogueira, em representação da Fenprof.É possível que, nesse primeiro momento, os sindicalistas da Fenprof não se tenham apercebido do mal que fizeram eles próprios ao exigir "o tudo ou nada". A supressão total da reforma ou acabariam as negociações. O que poderia insinuar a ideia, no espírito de muitos professores de boa vontade, de que são a esmagadora maioria, que afinal eram os sindicatos - ou pelo menos a Fenprof - que não queriam a avaliação, ao contrário do que tinham afirmado sempre.Ora se os sindicatos representam os professores - ninguém deve negá-lo, porque os sindicatos são um elemento essencial da democracia -, a maioria dos professores não estão sindicalizados e todos pensam pela sua cabeça, como cidadãos conscientes, avaliando, em consciência, qual o caminho que mais lhes interessa trilhar do triplo ponto de vista: nacional, dos alunos e deles próprios, na defesa da sua própria dignidade e da classe profissional a que pertencem, e que interessa a todos prestigiar.Deve ter havido uma reponderação e, num segundo momento, Mário Nogueira e os seus camaradas afirmam que "não querem que haja um vazio na reavaliação dos professores".Ainda bem. O mais importante é que os sindicatos e a sr.ª ministra (que tem demonstrado firmeza e, ao mesmo tempo, abertura e boa vontade) retomem as negociações, marcadas para a próxima sexta-feira, abandonem "os braços-de-ferro" - tão inconvenientes no momento grave de crise que o mundo e Portugal atravessam - como é do interesse de todos."



Oxalá na 5 de Outubro e na Plataforma Sindical haja ouvidos abertos para o conselho, em vez de se inebriarem com o cheiro da pólvora. Já aqui tinha escrito que haveria que negociar com os interlocutores que querem a avaliação de desempenho e vencer os outros. Um processo rápido e bem sucedido de diálogo com um bom acordo entre os que realmente desejam a avaliação de desempenho poderia satisfazer reivindicações justas dos professores e demonstrar que o conflito pode ser criador quando bem gerido pelas partes. Para isso, terá que haver reciprocamente capacidade negocial e, sobretudo, que na próxima ronda de negociações nenhuma das partes ponha pré-condições nem encadeie esta questão noutras. Espero, pois, que a plataforma não se escude na exigência prévia da suspensão para mostar a sua proposta, bem como que o Ministério não lhe reaja negativamente antes de a ler aprofundadamente.



Tendo todos dito que querem a avaliação, tendo o Ministério desburocratizado por sua iniciativa o seu modelo, respeitando os professores e não comprometendo a reforma educativa, o melhor caminho seria o do acordo. Por outro lado, o Ministério deu um grande passo, pelo que, para quem acredite no diálogo social percebe que o próximo terá que ser dado pelos sindicatos. Até agora, ainda não foi dado. Mas até sexta-feira há tempo.