Desiludam-se os que querem renovar a esquerda com o BE - resposta a Luis Tito
O Luis Tito reagiu ao meu texto sobre a renovação da esquerda e a relação com o BE com a franqueza que lhe agradeço.
Com a mesma franqueza lhe asseguro que nunca estive e não estou entre os que viram nas iniciativas políticas que Manuel Alegre vem tendo uma instrumentalização do BE e nem sequer entre os que as receberam mal.
Mas também lhe digo que não me parece muito certeiro ser ao mesmo tempo crítico da direcção do PS e acrítico da direcção do Bloco de Esquerda. Luis Fazenda e Francisco Louçã não são apenas militantes livres do BE. São, de facto, seus dirigentes de topo e o que digam não pode ser tratado como se representassem correntes ultraradicais e minoritárias. Juntos, eles lideram as correntes que fazem a larga maioria do BE. Por isso o que pensem sobre a relação entre o BE, a esquerda e o país tem que ser tratado como espelhando, até prova em contrário, a vontade do BE.
Em textos anteriores, incluindo uma polémica com um editorialista do Esquerda.net, já coloquei as minhas questões e já tive respostas suficientes, aliás, concordantes com o que Fazenda agora escreve.
Penso que o BE tem demonstrado recorrentemente que a sua liderança não está preparada para fazer rupturas consigo mesma e, não o estando, faz parte do problema que Manuel Alegre já identificou bem. Penso que O BE não anda (pelo menos não anda ainda) à procura de novas vias para a esquerda, ao contrário de Manuel Alegre e do que o próprio BE faz crer.
Para mim, o texto de Luis Fazenda não deixa dúvidas sobre o que ele pensa neste momento do papeis do seu partido e do PS na esquerda, nem de quem ele tem como parceiros e como adversários políticos. Como já não as tinha deixado uma notícia anterior sobre palavras de Francisco Louçã.
Se o Luis Tito entende que quem define o PS como estando fora da sua aritmética e o coloca entre os adversários, respeito a sua opinião mas discordo. Se ele não entendeu do texto de Luis Fazenda que ele define o PS como seu adversário, então, digo-lhe apenas que quem leu mal, não os sinais mas as palavras, foi ele e não eu.
O Tito não precisaria que lhe reafirmasse a estima com que escrevo isto nem que lhe repetisse que acredito completamente na boa vontade com que organizou e participou no Forum das Esquerdas. Quanto a este último ponto, apenas lhe digo que há quem seja de esquerda e acho que este Governo não está a destruir a escola pública nem a capitular perante os neoliberais na regulação do trabalho, embore tenha linhas de reforma com alguns aspectos a discutir e,mesmo, a rever.
O pior serviço, acho, que se poderia fazer às vossas iniciativas seria assimilá-las àquilo a que António Costa chamou a esquerda do não. Mas essa tendência só pode ser contrariada por vós, querendo, se reflectirem não apenas sobre os que pretendem criticar mas também sobre a postura dos companheiros de jornada que escolherem ou aceitarem.
Por mim, digo apenas que me revejo plenamente na necessidade de encontrar novas vias para a esquerda, que ambicionem transformar a sociedade, mas estou longissimo de pensar que a atitude de futuro para a esquerda em Portugal seja a defesa da conservação do modelo social a que chegámos.
(Publicado também no Banco Corrido)