Mais verbos irregulares
1. Interessante, a dualidade de critérios nos julgamentos sobre episódios de gravação clandestina de aulas. Sobre a gravação com câmaras escondidas que, em Maio de 2006, serviu de base a uma reportagem da RTP sobre a violência nas escolas, elogiou-se quem gravou pois mais importante do que os meios usados foi o que assim tinha sido publicamente revelado. Sobre a célebre “batalha” do telemóvel entre a professora do Carolina Michaels e a aluna em estado de histeria, condenou-se quem condenou a divulgação do vídeo na Net. Porém, sobre a gravação da aula da professora de Espinho pouco se falou sobre o conteúdo da dita e muito se tem reclamado contra a “bufaria” (o termo entrou na moda) da gravação. Diferença? Nos dois primeiros casos estavam em causa comportamentos de alunos, no terceiro de uma professora. É mais um verbo irregular: a minha gravação é corajosa, a tua exemplar, a deles um abuso.
2. Para que conste: em minha opinião são todas abusivas.
3. Não resisto, contudo, a um comentário curto sobre o conteúdo da gravação. Quando dele se falou, centraram-se as reclamações no teor sexual da intervenção da docente: escândalo! Infelizmente, pareceu incomodar quase ninguém a diatribe elitista sobre o fosso de qualificações entre a docente em causa e a mãe de uma das alunas. E isto, sim, é que é ataque radical à missão da escola pública.