Défices de fair play e de factualidade
Segundo Carvalho da Silva, no Público (ainda com José Manuel Fernandes), a presença de Valter Lemos no Emprego é um sinal “absolutamente desastroso” do Governo.
1. Carvalho da Silva tem um pequeno problema com as regras do jogo democrático e com o fair play institucional. Compete ao primeiro-ministro, não ao secretário-geral da CGTP, a selecção e a nomeação dos membros do seu Governo, com os seus critérios, não os do secretário-geral da CGTP, entre pessoas da sua confiança política, não da confiança política do secretário-geral da CGTP. O que acharia Carvalho da Silva de intervenções do primeiro-ministro, o actual ou qualquer outro, a propósito de escolhas da CGTP para os seus órgãos de direcção?
2. Carvalho da Silva tem também um pequeno problema com os factos. Segundo ele, “Valter Lemos foi a referência mais forte da conflitualidade com os professores” no anterior Governo. Ora, enquanto secretário de Estado da Educação, Valter Lemos foi responsável pela colocação (a tempo e horas) dos professores, pela reorganização da rede escolar ou ainda pelo Programa Novas Oportunidades (em colaboração com o Ministério do Trabalho). Não teve, porém, o pelouro da negociação com os sindicatos dos professores. Este era de Jorge Pedreira, a quem coube, até por isso, a gestão dos processos de revisão da carreira docente e da avaliação (para além do dossiê dos manuais escolares). Basta consultar a delegação de competências de então.
3. Ou seja, Carvalho da Silva repete uma das últimas intervenções de José Manuel Fernandes, em que este, com aquele rigor factual que o tornou uma referência no jornalismo português, criticava a escolha de Valter Lemos para o Emprego e a Formação Profissional por este ser, entre outras coisas, o autor das tão contestadas fichas da avaliação. Adaptando a canção, “afinal havia outro…”. Substituir os factos pelo preconceito não resulta nem em bom jornalismo nem em intervenção política recomendável.